"Te prometo o amor seco e morno. Porque todo calor se dissipa e toda umidade evapora. Só alma permanece. A ti, meu amor, registro as promessas para a eternidade em que passaremos juntos.
Te prometo a traição diária, o flerte compulsivo, a obsessão no outro. Afirmo que o meu amor por ti é tão grande que não cabe em mim. E esse amor me comanda, me domina e me fascina. Ele me faz procurar cantos onde possa guardá-lo e toda alma de coração vazio é receptáculo para essa paixão. Paixão que traz alegria e prazer. E a alegria não se contenta em si só, quer se multiplicar para o outro, dar de si para todos que lhe rodeiam. E levar as pequenas alegrias aos que não têm amor é fazer aumentar a ambos numa torrente infinita de prazer, alegria e amor. A alegria de muitos é a prova do amor que trago para ti.
Te prometo a desculpa vazia, sem vontade, a sinceridade invertida. Pois a verdade acaba com o glamour, destrói o elán que mantém a paixão em ebulição. A verdade castra, castiga e maltrata o amante, o amado e o amor. Pois não foram as mentiras pequenas, sussurradas ao pé de ouvido que lhe trouxeram? Não fora o encanto do impossível, do amor eterno e sublime que te fez despir os seios? Não fora o desejo irreal do gozo perpétuo que te fez voltar à minha casa? Pois temos de manter esse encanto vivo e vívido. A manutenção desse encanto é prova do amor que trago para ti.
Te prometo a pouca atenção nas suas coisas, o desinteresse na tua vida, o muxoxo resignado. Dado que o mundano desencanta mais que a verdade. O cotidiano massacra e torna vulgar o que era belo e raro. Assim como uma foto desbotada de tanto se manipular ou um disco de vinil, arranhado de tanto chorar as canções para ouvidos moucos que se embolavam no sofá da sala e xingavam quando tinham de trocar do lado A para o B. O nosso amor deve ser motivo e razão, início e fim, dos nossos dias. O resto não deverá mais importar. A intensidade dessa paixão é a prova do amor que trago para ti.
Te prometo o eterno adiar das mudanças, dos consertos, de fazer dar certo. Mudar poderia arruinar o que foi conquistado. Pois o passado é perfeito e não permito nada menos que a perfeição para ti. É no mundo estático, finito e imutável que vivemos a nossa história particular e ali é que manteremos a chama que nunca se acabará – apesar do poeta – e que nos aquecerá para todo o sempre. O instante em que nos beijamos pela primeira vez, o primeiro gozo, a primeira refeição, o primeiro acordar, serão sempre os momentos que nos moverão de agora por diante. A manutenção da memória do que fomos e que sempre seremos é a prova de amor que trago para ti.
Te prometo a negação premente, posto que não fui eu, mas o meu desejo a me fazer errar. Negando, te dou a certeza. A certeza traz a segurança. A segurança a manutenção. A manutenção, o elan, o glamour, a paixão e a alergia. Então te negarei tudo: as verdades, as mudanças, as vidas de outrem, a minha dedicação, a atenção, o céu, o universo, a terra e negarei – por fim – até mesmo que te amo. Pois preciso de ti mais que a mim mesmo e te negando o tudo, nego a mim. Só tu me importa. E essa minha dedicação é a prova de amor que trago para ti.
Te prometo a tristeza perene, o desânimo diário, o desesperançar noturno. Pois cada um tem de ser a alegria, a razão suprema e sublime da existência, o motor de alma do outro e, dado o brilho de nossa convivência, o restante do mundo será opaco e sem viço. Então, ao nos separarmos, nada fará sentido, nada terá gosto ou causará espécie. Somos o sal, o vinagre, o azeite e pimenta da vida. E esse tempero é a prova de amor que trago para ti. Somente para ti.
Te prometo o amor seco e morno. Porque todo calor se dissipa e toda umidade evapora. Só a alma permanece."
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